João Carlos M. Madail
Meritocracia na gestão pública
João Carlos M. Madail
Economista, professor, pesquisador e diretor da ACP
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A meritocracia é um modelo de gestão por competência onde as pessoas possuem conhecimento, habilidades e atitudes, ou seja, é um conjunto de valores que exige que o indivíduo inserido na sociedade obtenha a sua posição conforme o mérito das suas ações individuais ou o reconhecimento público da sua capacidade qualitativa de realização própria. A palavra meritocracia significa literalmente o governo dos melhores ("mérito", melhores: "cracia", governo), ou seja, é a associação direta do mérito com o poder, um sistema social que prega que se deve conseguir algo baseado no esforço pessoal; o famoso "fazer por merecer".
A cada início de governo, quando da escolha dos futuros gestores das empresas públicas, a questão vem à tona e tem sido motivo de críticas quando o gestor escolhido para determinada estatal é um político disfarçado de gestor, responsável pela recuperação da empresa que se encontra em situação desfavorável em todos os aspectos. O que está ocorrendo no atual governo não é diferente. Ouvem-se diversos posicionamentos a respeito da ausência de valorização de méritos profissionais nas estatais, substituídos pelo apadrinhamento e indicações políticas nos principais postos de importantes estatais.
Com raras exceções, o aparelhamento político nas estatais é destrutivo. Mesmo o acionista da empresa, que deveria ser o principal interessado em assegurar a eficiência do setor público e reverter o déficit nas estatais comprometidas financeiramente, desconsidera os malefícios e o efeito nocivo da ausência de profissionalização dos gestores e do aumento das indicações políticas nas empresas públicas e trata o assunto como se fosse um procedimento normal e benéfico para o bom desenvolvimento das empresas públicas. É notório que, na maioria das vezes, os indicados para cargos em comissão são escolhido sem possuírem a qualificação e a experiência necessária na gestão de empresas de grande complexidade. Como é o caso dos Correios, uma empresa gigante, com mais de cem mil empregados e com um orçamento de R$ 20 bilhões de reais/ano.
Pessoas sensatas, que acreditam que podem viver num País melhor, menos desigual, que ofereça oportunidades de negócios e emprego para todos, entendem o absurdo que é a contratação por indicação de um partido político ou de um dirigente, de um suposto profissional não qualificado para ocupar posição tão importante que envolve múltiplo interesses. Diante de um cenário nacional e internacional complexo, que exige maior preparo e qualificação profissional para enfrentar com sucesso adversidades e oportunidades, ao invés de priorizar a competência e o foco em resultados da gestão, o que vivenciamos são alguns políticos e interessados diretos defenderem a manutenção dessa cultura do aparelhamento político e a tolerância dos órgãos controladores, que se mantêm distantes dessa problemática, manifestando ocasionalmente sobre um ou outro caso.
Não há dúvida que o modelo de gestão por competência, quando introduzida em uma organização, é capaz de produzir uma maior meritocracia em função das práticas organizacionais, visto que a competência é uma maneira de se avaliar o desempenho dos indivíduos e, por conseguinte, da empresa como um todo. Um dos pilares que suportam a ideologia de um sistema meritocrático é a confiança em todo o processo porque, para total aderência e credibilidade no mérito, há a necessidade de todos os envolvidos estarem empenhados para que exista uma forma de avaliação de desempenho.
Enfim, o tema é polêmico e continuará sendo discutido até mesmo por pessoas contrárias à meritocracia, entendendo como uma forma de desigualdade social ou uma ideologia para servir aos interesses de alguma classe dominante e aos seus compromissos institucionais.
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